Ainda me corta o peito a saudade de Olinda, enquanto visito memórias, construo lembranças que aos poucos se assentam no imaginário, parte se dissolve em palavras e parte viaja rumo ao meu próprio encontro num tempo ainda futuro, essas, me obrigarão a parafrasear Chicó de Suassuna nas rodas de conversa, quando, ao fim das histórias que as palavras não darão conta de esgotar o relato, direi: “Não sei, só sei que foi assim”. E realmente não sei, mas atravessar a geografia de Pernambuco rumo a Paraíba pelas longas e deliciosas estradas, cortando manhãs, tardes e noites, cidades, canaviais e caatinga, semiárido, cariri e sertão, ainda me soa como devaneio distante de tomar a realidade, fato é que desde que meus pés tocaram o sagrado solo paraibano pela primeira vez, em Janeiro de 2022, fui acometido pela certeza de que voltarei sempre que a minha percepção de Beleza na vida comum se distanciar da rotina e assim, como um chamado, apenas aceitarei, como aceitei nas últimas semanas, dessa vez, com a missão de calibrar ainda mais o olhar da Opera diante de um Brasil profundo, verdadeiro e com segredos que livros não contam, por estarem guardados como botija escondida do cangaço, que quando aparecem em sonho, mudam rumos de toda a vida.
As obras de Brennand, as ruas do Recife, a ladeira da misericórdia, sonhei com as ladeiras de Olinda, dormi num Lajedo sem o conforto da energia elétrica, embalado pelas histórias de Seu Lima e Gérson, desliguei o celular, ouvi o mar pelo facheiro, a extinção dos vagalumes, as cadentes estrelas em meio aos decadentes satélites Starlink que nos confundem, a flor do mandacaru, o sino dos bodes, o sino das rochas, acordei nas estradas do Cariri, a ema cruzando a estrada, a luz da lua ainda ilumina a noite, o silêncio, o sol sobre a pele, a falta de sombra, as cores que os sensores das câmeras não captam, pois apenas a longa exposição ao sol e as pupilas retraídas são capazes de observar, céu que soa infinito, onde a poesia de Alceu faz ainda mais sentido, entre Pernambuco e Paraíba, um caminho que atravessei e que agora me atravessa, lentamente, entre ladeiras, estradas e infinitudes.Por enquanto, ainda não sei,
mas sei que foi assim e ainda está por acontecer.