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BARRA: REGIONALISMO E RETORNO

Atualizado: 4 de mar. de 2023

Nos últimos anos, observamos símbolos, signos e objetos do imaginário popular brasileiro, tomando distância de seus verdadeiros significados, a bandeira que virou artifício eleitoral, as cores que foram esvaziadas de sentido e um sentimento de pertencimento ao local de origem que foi tomado de um povo por ter ganho conotações distantes de uma abrangência nacional unificada. Vimos ruas que tradicionalmente são pintadas para a Copa do Mundo com explicações de que as cores eram em prol da torcida e sem cunho político, vimos manifestações religiosas tendo que expor o real sentido da cor de suas vestes, observamos verdadeiros atentados acontecerem contra a cultura brasileira e seus agentes por razões ilógicas e odiosas e percebemos um cenário de polarização tomar todas as camadas de acesso à realidade em nossa volta. Talvez por isso, uma valorização exarcebada ao entorno de uma globalização genérica, distante e vazia em sentido tomou parte do consumo cultural de quem simplesmente cansou do assunto Brasil e decidiu olhar por outras janelas a realidade. Obviamente, neste cenário dicotômico, existem os que buscam o distanciamento, os que reforçam o esvaziamento e os que lutam para lançar luz sobre a cultura local como forma de resistir ao sombrio esgotamento de sentido que posiciona a nossa existência em posição crítica, afinal um povo sem identidade cultural está fadado a perder âncoras que os conectam com sua história, com seus costumes e com a valorização do que é verdadeiramente seu.

Diante dessa explanação, observamos no Brasil a moda como vetor cultural, produzir em seus segmentos releituras de narrativas e produtos com identidades fundamentadas numa ilusão norte americana ou europeia e completamente distante do que é a realidade vivida na América do Sul. Exceções surgem no decorrer da atuação das marcas e dos agentes do streetwear contemporâneo brasileiro, mas majoritariamente, o que é o observado ganhando notoriedade ainda é releitura, ainda não fala de assuntos do nosso cotidiano e ainda tem um cunho, mesmo que inconsciente, colonialista.

Por enxergar de longe, condicionamos nossa atuação junto a marca, que é fundamentada no bairro da Barra do Jucu, em Vila Velha, Espírito Santo, ao rompimento com as alianças de seu segmento, fixando o olhar para o próprio lugar e suas cores, para estampar suas realidades e propor um streetwear que fala a partir das ruas do bairro, um bairro rico em manifestações populares, de ares caiçaras e com vetores culturais muito bem alicerçados em sua raiz. Com uma pesquisa simples sobre a cultura na Barra do Jucu, é fácil entender o motivo pelo qual é impossível a marca ignorar o caminho que se desenha nessa direção. Para a terceira entrega do ano, buscamos a memória de dois artistas locais para a execução de seus editoriais fotográficos, o Museu Homero Massena e o Ateliê Kleber Galvêas, ambos na cidade de Vila Velha e de artistas que tomaram como missão de vida, retratar a percepção da realidade a partir da Barra do Jucu, em seus contextos, através das artes plásticas. Nos produtos, inserções em Tricô, uma aproximação temática ao futebol, tomando como referência Denner, icônico e lendário jogador brasileiro. A colaboração com a família de mulheres crocheteiras da Rayô, entrega acessórios de maneira magnífica e feitos à mão, uma característica que tem se desenhado como tônica na atuação recente junto a marca. Impressões em Fine Art revelam paraísos naturais da Barra do Jucu, ao referenciar manguezais e a principal praia da região.

Nos preparamos agora para fundamentar ainda mais uma atuação regionalista, tomando como missão o resgate e a resistência cultural através de uma atuação sensível, lançando luz, sempre que possível, ao que se desenha único diante dos nossos olhos: o local de onde se fala.


Até aqui, uma breve leitura regionalista aplicada ao universo da Barra,


OPERA PLURAL™️




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